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domingo, 30 de setembro de 2012

Consórcio Da Juventude

"Caminhando" pelas "ruas" da web, encontrei uma reportagem que fiz há anos quando eu participava de um programa social do governo federal, me surpreendi pois não lembrava desta entrevista. Lembro-me que na época fui indicado pela turma ao responsabilidade de me tornar candidato, e fui eleito quase que por unanimidade,  à representar mais de 120 alunos da instituição ''Quilombo'' que até hoje existe, não consegui agradar a todos, mas , isso nem Jesus conseguiu.

Foi no Jornal ''Correio de Sergipe'' 30/09/2005 (trinta de Setembro de dois mil e cinco), há exatamente 7 anos (meu Deus! "Tô" ficando velho)


    "Para Gledson Moura da Conceição, 18 anos, a oficina de dança é uma esperança para conseguir um emprego. "Escolhi essa oficina porque tenho facilidade para dançar. Em Aracaju, existem muitas academias de ginástica que têm aulas de dança e eu espero conseguir um emprego como professor em uma delas. Mas se eu arrumar um emprego em outra área não tem problema nenhum. O importante é trabalhar", assegura o jovem. Morando com a mãe, o padrasto e um irmão, Gledson diz que a renda da família é de um salário mínimo. Além de ajudar em casa, ele vai investir em seus estudos com a renda conseguida logo que começar a trabalhar."

Link: http://www.correiodesergipe.com/lernoticia.php?noticia=9220

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Três Mal-Amados

 "O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto